Setor de Cogeração está otimista com as perspectivas do Mercado de Gás Brasileiro

 

 

A edição desta terça-feira (7) do projeto Perspectivas 2020 vai abordar o futuro do mercado de cogeração de energia no Brasil.  O nosso convidado de hoje é o presidente executivo da Associação da Indústria da Cogeração de Energia (Cogen), Newton Duarte, que traz previsões animadoras para o segmento. Esse otimismo se deve às iniciativas que o governo está tomando para dinamizar o mercado de gás natural no país. “As perspectivas são excelentes e, na medida que o governo consiga acelerar esse processo e criar condições no mercado para que a gente tenha um mercado de gás competitivo no Brasil, a indústria e o comércio vão saber fazer uso desse gás, para que possamos evoluir, e a cogeração vai ter um papel importantíssimo”, opinou. Duarte ainda considera que uma medida importante para o setor é que o país aumente sua infraestrutura de escoamento de gás, tornando o combustível mais competitivo. Vejamos agora quais são suas opiniões: 

Como viu o seu setor no ano de 2019?

 

Foi um ano em que pouco avançamos, do ponto de vista do desenvolvimento da cogeração a gás natural no País, muito em função dos aumentos que vivenciamos no final de 2018 e começo de 2019 nas diversas distribuidoras, quando ficou praticamente impossível o desenvolvimento de novos projetos de cogeração a gás. Por outro lado, mesmo no ano de 2019, as perspectivas com gás se engrandeceram enormemente na medida em que o governo — principalmente na pessoa do ministro da Economia, Paulo Guedes — colocou como obrigação do País o equacionamento do preço de Gás, com o objetivo de trazer um preço de gás equiparável ao mercado internacional. E dessa forma, como ele diz, reindustrializar o País. Isso abrirá portas para desenvolver a cogeração e trazer eficiência para a indústria brasileira e também para o comércio e — por que não dizer? — até o mundo residencial. Então, de um lado fomos mal porque vivenciamos o período de altos preços do gás, totalmente defasados do preço internacional, sendo que vivenciamos preços de 12 a 13 dólares por milhão de BTU quando o mercado internacional ronda entre 3 e 7 dólares por milhão de BTU em uma condição muito desfavorável para a competitividade da indústria brasileira.

Por outro lado, novas perspectivas se abrem a partir desse ano de 2019, na medida em que o governo quer criar uma pluralização do fornecimento de gás, trazendo novos players para o GNL, trazendo novos players para desenvolver poços maduros de gás, para trazer perspectivas de esse gás produzido no Pré-Sal encontrar maneiras de desaguar no mercado brasileiro. Seja com grandes âncoras termelétricas a gás natural com ciclos combinados e grandes projetos, a exemplo da empresa GNA lá, em Porto de Açú, no Rio de Janeiro, com blocos de 1500 MW, e com perspectivas de se colocar um segundo bloco já em construção, além de uma perspectiva de dobrar isso. O mesmo acontece em Sergipe e em outros estados brasileiros. Então, nós temos várias fontes de gás que deverão se colocar no mercado brasileiro, pressionando a Petrobrás a se encaixar a moldes competitivos, internacionalmente falando. Isso trará uma nova perspectiva do uso de gás, na medida que teremos concorrência no fornecimento de gás. Por outro lado, boas perspectivas na medida que a gente vê interesse de grandes grupos internacionais como Brookfield e Engie, que estão fazendo grandes investimentos em gasodutos, compraram os gasodutos. A Engie, inclusive, quer partir para cima do TAG, quer a totalidade do TAG, o que mostra que os grandes grupos estão enxergando de maneira muito interessante o setor, fazendo novos sistemas troncais de distribuição desse gás, os novos gasodutos, de forma que a gente possa levar o gás da costa para o interior brasileiro, principalmente nos centros industriais como São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e sem falar da Bahia, que tem um centro industrial importante (Camaçari) e avançando mais para o interior.

 

Qual é a sua expectativa para 2020?

 

Eu vejo que as perspectivas para 2020, na medida que tivermos acesso a um gás de custo inferior, vamos poder retomar o processo de Geração Distribuída e de cogeração a gás natural, principalmente para a indústria. Isso trará eficiência para a indústria, acesso ao calor, ao vapor, à água gelada de uma maneira competitiva, com excelente grau de eficiência, acima de 90%, e possibilitando também às empresas o uso do sistema de Net Metering, caso elas instalem sistemas até 5MW ou vendendo excedentes. Ou seja, as perspectivas são excelentes e, na medida que o governo consiga acelerar esse processo e criar condições no mercado para que a gente tenha um mercado de gás competitivo no Brasil, a indústria e o comércio vão saber fazer uso desse gás, para que possamos evoluir, e a cogeração vai ter um papel importantíssimo a medida que ela traz resiliência, eficiência, segurança e confiabilidade para os sistemas energéticos dessas indústrias, comércios, hospitais, datacenters, aeroportos etc. Então, as perspectivas são espetaculares.

 

O que gostaria de sugerir para que seu segmento de negócios fosse mais ativo?

 

Para fazer esse setor se desenvolver, é preciso ser consequente para criar condições para que esse mercado possa se desenvolver. Na medida que o governo crie condições, à semelhança do setor elétrico, em que estamos desenvolvendo o sistema de transmissão para ter condições de levar a eletricidade para os rincões brasileiros, o mesmo tem que acontecer com o gás. Nós temos que desenvolver os sistemas troncais de transporte do gás de tal forma que a gente possa mais e mais levar um gás competitivo, com competição no fornecimento, de forma a dotar a nossa indústria — a indústria longe da costa — ao acesso ao gás e produzir soluções com gás barato, gás competitivo a nível internacional. Nós precisamos que esse governo seja extremamente pragmático, firme e não arredar pé de levar esse gás de forma competitiva para o usuário. E como fazê-lo? Promovendo o incremento do sistema de distribuição de gás, primeiro no sistema troncal e depois na distribuição, para que a gente possa crescer. As distribuidoras de gás vão ter um papel importantíssimo na medida em que elas tenham que buscar um gás mais competitivo e tem que haver, de parte da ANP, da agência reguladora, uma maneira de eficientização, para que ela cada vez mais se preocupe em trazer um gás mais barato. Então, o que precisamos é forçar para que esse gás seja cada vez mais barato para o consumidor — obviamente respeitadas as condições contratuais, da concessão e tudo o mais. Mas tem que haver uma pressão para que esse gás seja mais barato e dotar o grande usuário, o grande consumidor, também da possibilidade de comprar gás, promovendo o mercado livre de gás, para que ele acesse o gás mais barato, pagando pelo pedágio de fazer uso dos tubos das distribuidoras ou mesmo dos tubos das grandes transportadoras. Seria interessante introduzir no setor um conceito similar ao do setor elétrico, em que se paga TUST e TUSD. Quando o consumidor industrial quiser fazer acesso a um gás mais barato, compraria esse gás e pagaria uma tarifa do uso do sistema de gás.