Usinas híbridas: biomassa de cana com biogás de vinhaça – Nada se Perde

Brasil Energia - 06/03/2018

Resíduos e descartes para a geração de energia

As ótimas perspectivas abertas para a produção e uso dos biocombustíveis com a implantação da nova política nacional para o setor, o Renovabio, devem favorecer não só o aumento da produção de todas as suas alternativas como também o desenvolvimento de tecnologias inéditas para acogeração de energia a partir de biomassas.

Um exemplo disso deve ocorrer com as chamadas usinas híbridas, no setor sucroalcooleiro, pelas quais a geração de vapor e energia das turbinas a vapor movidas pela queima da biomassa de cana pode ser consideravelmente aumentada com o uso dos gases de exaustão de uma turbina a gás que operaria com o biogás de vinhaça.

A tecnologia híbrida, porém, está começando a se desenvolver com o bagaço e o gás natural, em um projeto liderado pela concessionária de gás do noroeste paulista, a GasBrasiliano. A ideia é, de início, fazer com que duas usinas da região de concessão participem já do leilão A-4 de abril com o sistema, que contaria com uma turbina a gás para receber o gás fóssil. Com potência aproximada de 6 MW, os gases de exaustão dessa turbina, com temperatura média de 500ºC, seriam usados para aquecer, em trocador externo à caldeira, o vapor gerado pela biomassa.

Esse aproveitamento dos gases efluentes da turbina a gás aumenta a eficiência do ciclo de vapor, gerando mais energia com menor consumo de bagaço. A estimativa, já comprovada por operações teste, é de o sistema híbrido quase dobrar a energia excedente da usina, numa proporção de gás de 20% em comparação com o bagaço. Segundo a GasBrasiliano, enquanto uma cogeração convencional tem capacidade para gerar 61 kWh/t de cana processada, a híbrida elevaria esse patamar para 113 kWh/t.

A experiência com o fóssil gás natural, porém, teria o mérito maior de incentivar o setor a aproveitar o mais rápido possível o imenso potencial de geração de biogás oriundo da digestão da vinhaça – efluente das usinas que hoje representa um volume anual próximo de 340 bilhões de litros (na relação de 12 litros para cada litro de etanol produzido). A estimativa da Abiogás é de que o setor sucroenergético tem potencial para gerar 39 bilhões de m3/ano de biogás.

Tem essa opinião o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Cogeração de Energia (Cogen), Newton Duarte, que inclusive está envolvido pela associação nas discussões que envolvem a GasBrasiliano e a Aneel e que avaliam o impacto que o gás natural teria sobre a cogeração de bagaço de cana para se considerar a operação ainda como de fonte incentivada nos leilões. “A usina híbrida com gás natural tem de ser um primeiro passo, mas o ideal e mais lógico é depois usar o biogás da vinhaça, empregando as duas fontes renováveis”, diz.

Para Duarte, trata-se de caminho inexorável. As usinas sucroenergéticas no futuro devem criar a seguinte ordem de prioridades para o biogás: 1) substituição do diesel, já que para cada tonelada de cana colhida se gasta 3,5 litros do combustível fóssil para transporte; 2) geração de energia com sua queima em turbina, por exemplo no sistema híbrido ou em térmica dedicada com biometano; 3) injeção na rede das concessionárias; e 4) comprimir o gás para venda como GNC.

O cenário é ainda melhor por conta da previsão da Cogen de que, com o Renovabio, a cogeração com bagaço de cana vai passar a exportar ao SIN no mínimo mais 4 GW de capacidade, sobre os atuais 11,2 GW instalados, uma vez que para chegar em 2030 a uma oferta de etanol da ordem de 52 bilhões de litros, como planejado, quase o dobro da produção atual de 28 bilhões, será necessário o plantio de mais 220 milhões de toneladas de cana por safra, o que gerará no final mais 288 bilhões de litros de vinhaça por ano, totalizando 628 bilhões de litros que podem ser transformados no bem-vindo biogás. Números que devem animar os investidores.