Por que produzir a própria energia virou uma tendência mundial

Só no Brasil, mais de 50 mil consumidores escolheram essa opção, que ajuda a reduzir o valor da conta de luz e tem baixo impacto ambiental

 

Em busca de melhor qualidade e economia na fatura, uma legião de brasileiros segue uma tendência mundial e produz a própria energia. Nos últimos anos, mais de 50 mil pessoas ou empresas montaram seus próprios pontos de produção e aderiram ao modelo de Geração Distribuída (GD). Qualquer um dos 82 milhões de consumidores no país pode fazer a escolha por essa opção.

 

Essa forma tem sido vista com bons olhos não só porque beneficia os consumidores, mas também porque oferece vantagens para o meio ambiente. Além de proporcionar menor gasto e melhor eficiência energética, a geração distribuída tem baixo impacto ambiental, segundo Bruno Melo, engenheiro civil da Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD). “Com o aumento da GD, diminuiria a dependência de grandes usinas hidrelétricas, que causam diversos impactos como alagamentos de grandes áreas resultando em mudanças na fauna e flora”, explica.

 

O ambiente ainda agradece porque a geração distribuída costuma fazer a utilização de fontes limpas e renováveis. De acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a energia solar predomina no país, com 79%. As centrais geradoras hidrelétricas, com capacidade para até 5 megawatts, vêm na segunda posição do ranking, com 11%.

 

Para o país, a ABGD destaca que a geração distribuída tem importância fundamental no desenvolvimento energético, econômico e socioambiental. “Existe a geração comprovada de empregos, principalmente nas instalações dos sistemas que são feitos manualmente na maioria dos casos e a diminuição dos impactos que as fontes não renováveis causam”, comenta Melo.

 

Em razão de todos esses benefícios, os especialistas acreditam no crescimento do número de adeptos da Geração Distribuída. Segundo o diretor de Regulação e Tecnologia da Associação da Indústria de Cogeração de Energia (Cogen), Leonardo Caio Filho, as vantagens com redução de perda e problemas de confiabilidade devem fazer o sistema ser cada vez mais presente, especialmente em grandes centros metropolitanos. Com mais edifícios corporativos, hotéis e shoppings para consumir, pode haver uma saturação da rede já existente. “Você parte pra um caminho de uma cogeração, com isso você vai produzir energia e trazer mais confiabilidade ao seu sistema”, diz.

 

A cogeração, no caso, é quando com um mesmo combustível são geradas mais de uma forma de energia. Por exemplo, com gás natural se produz eletricidade e energia térmica, que pode ser usada para aquecer água ou resfriar o sistema de refrigeração de um prédio, por exemplo. “Você otimiza a geração global”, aponta Caio Filho.

 

Para o gerente de Estratégia e Competitividade da Associação Brasileira de Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás), Marcelo Mendonça, a cogeração ainda é pouco explorada no Brasil. Segundo Mendonça atualmente são consumidos 3 milhões de metros cúbicos por dia em 107 plantas. “Hoje a demanda já evitaria o despacho de uma a duas termelétricas, evitando a sobretaxa da tarifa elétrica. Toda vez que tem um despacho tem a necessidade de implementar a bandeira vermelha”, explica Mendonça.

 

Para o engenheiro e sócio da Aflalo/Gasperini arquitetos, Roberto Aflalo Filho, faz todo o sentido para as cidades a utilização de sistemas autossuficientes. Com o crescimento constante do consumo ele aponta que ou a capacidade da rede terá que ser aumentada, ou haverá sobrecarga. E esses sistemas individuais devem ter como foco as fontes renováveis, em especial a solar fotovoltaica. “Eu acredito que um dia todas as nossas superfícies serão cobertas (por painéis solares). A autossuficiência de energia é uma meta a médio e longo prazo importante”, finaliza.