Indústria teme que haja apagão de gás no segundo semestre

Com estiagem, prioridade na distribuição do combustível é de térmicas, O uso do gás natural pelas termelétricas nos próximos meses pode resultar na falta do combustível para a indústria no segundo semestre. A advertência é do presidente da Associação Nacionaldos Consumidores de Energia (Anace), Carlos Faria. Segundo ele, o industrial que opta por gás natural sabe que há risco de ficar sem o insumo se situações como a atual, de reservatórios com nível baixo e todas as térmicas ligadas, se prolongarem. Isso ocorre, disse, porque a Petrobras, que tem o monopólio da distribuição do combustível, dá prioridade ao abastecimento de térmicas. O que sobra vai para a indústria. Uma fonte do setor informou que um grande consumidor de gás natural no Espírito Santo recebeu ontem notificação da distribuidora local sobre a redução do fornecimento do gás. A Petrobras não confirmou a informação, alegando confidencialidade de contratos. Alguns são de fornecimento flexível, permitindo a substituição total ou parcial do volume contratado de gás por combustível alternativo, no caso de consumidores bicombustíveis. - Ainda não está faltando gás para a indústria. Mas, se a estiagem continuar, é provável que a partir do segundo semestre a entrega de gás fique prejudicada - afirmou Faria. Em nota, a Petrobras diz que "reafirma que não há qualquer problema com relação à disponibilidade de gás para o mercado". Para o presidente da Anace, um racionamento branco, com redução voluntária do consumo de energia pelo setor produtivo, só seria possível se o governo admitisse disponibilidade de energia próxima do limite. - O racionamento branco só pode ser recomendado se o governo for muito, muito transparente. Se isso ocorrer, a indústria teria de ver sua carteira de pedidos e fazer redistribuição da produção. Se os pedidos estiverem mais fracos agora, por exemplo, eles podem antecipar um período de férias coletivas - explicou. Faria descartou o risco de um apagão este ano. Mas, se 2013 for de chuvas abaixo das médias históricas, "há grandes chances de os brasileiros ficarem sem luz em 2014". Para a Anace, o uso de termelétricas para poupar a água dos reservatórios é solução paliativa e cara, já que a energia é gerada a partir de gás natural, carvão e óleo diesel. Além disso, as térmicas, juntas, geram 14 mil megawatts-hora (MWh), a produção de Itaipu, ao passo que o consumo nacional é de 70 mil MWh. - Estamos nessa situação hoje porque o governo não tem planejamento. Há térmicas que não saíram do papel, eólicas que não têm linha de transmissão e hidrelétricas sem reservatório por regras ambientais - disse, frisando que o custo das térmicas será repassado a todos os consumidores, reduzindo o desconto médio de 20% prometido pelo governo, para 10% a 14%. (Roberta Scrivano e Ramona Ordoñez)