CMSE entendeu que problema é crítico, avaliam especialistas

Extensão do programa de redução da demanda voluntária também para o ACR é vista como a última fronteira de atuação que o MME dispõe para evitar falta de abastecimento

MAURÍCIO GODOI, DA AGÊNCIA CANALENERGIA, DE SÃO PAULO (SP) COMPARTILHAR IMPRIMIR ADICIONAR A FAVORITOS

O resultado da reunião extraordinária do CMSE e a nota oficial emitida mostram que a situação está em nível crítico. A solução de atuar na demanda é a última alternativa que o governo tem para evitar uma crise de abastecimento de energia de forma mais intensa. A avaliação de agentes é de que neste momento o país pode chegar ao início do período úmido, mas que a operação de dezembro será “bem difícil”. E ainda está na tabela o custo de toda essa operação.

O maior problema está justamente na operação do sistema em horário de ponta, ainda mais com a economia voltando a crescer e o natural aumento das temperaturas no país com a aproximação do final do ano. Para fontes ouvidas pela Agência CanalEnergia, parece que o MME está entendendo que o problema se agravou e que agora passou a tomar as medidas. Apesar de que estas poderiam ser mais incisivas. Contudo, o fator eleição de 2022 está tendo um peso para a não adoção de metas de redução de consumo.

De acordo com José Marangon, da consultoria MC&E, o governo vem aceitando todas as ofertas de energia que existem à disposição. E isso tem um preço. Mesmo assim a geração das hidrelétricas caiu muito enquanto a demanda está em alta. Agora resta olhar para esse lado do setor, pois não há muito mais ofertas de geração.

“Parece que o governo não quer admitir o problema, é melhor fazer um programa com meta de redução de algo entre 5% a 10% nesse momento do que deixar o problema maior para o ano que vem”, recomenda. “Não teremos chuvas, a solar e a eólica podem ajudar a minimizar a falta de energia, mas se a carga aumenta à taxa prevista será um complicador”, diz.

Maragon explica que ao passo que, os reservatórios reduzem o volume, mais máquinas precisam ser desligadas por questões técnicas. As usinas ficam menos eficientes e perde-se a inércia do sistema, fator esse que as eólicas por exemplo, não conseguem suprir. A consequência ao perder a inércia é a ocorrência de apagões no sistema.

A adoção de um programa de redução de demanda em índice mais moderado é visto pela diretora da Engenho Consultoria, Leontina Pinto, como a saída para que em 2022 não haja um problema maior. Em sua análise, incentivo de redução da demanda é positivo e não é sem tempo. Politicamente tem uma acolhida melhor, porque é dar dinheiro ao consumidor.

“Na minha visão entre 4% a 5% de redução, por uns seis meses, para dar tempo de os reservatórios encherem no verão. Se não pararmos de usar a água no verão e deixarmos os reservatórios se recuperarem, não conseguiremos chegar ao fim de 2022”, avalia.

Lavínia Hollanda, diretor da Escopo Energia, avalia que em termos de programas de redução de demanda o mercado regulado é um ambiente delicado, pois é o consumidor final e eleitor ao mesmo tempo. E não há muito espaço para medidas adicionais uma vez que a tarifa volumétrica é modelo antigo, diferentemente dos grandes consumidores.

Segundo seu relato, há conversas com agentes que consideram o atendimento da demanda até novembro com relativa estabilidade. Contudo, a preocupação está com o último mês do ano. Outra questão que precisa ser avaliada é a efetividade das medidas que estão sendo anunciadas.

Nivalde de Castro, coordenador do Gesel-UFRJ, diz que governo vem jogando com todas as cartas, comprando energia a qualquer custo e de qualquer origem. Em sua análise atuar em um programa voltado ao consumidor no mercado regulado é positivo. Para ele, com essas medidas, o governo está com foco no final do ano, mais especificamente a partir de novembro, quando inicia o período úmido.

O acadêmico considera importante atuar nessa frente, pois é a última que resta. E além disso, em termos de comunicação mostra que a situação é de alerta por conta do risco de falta de energia.

Outra questão colocada é o custo de toda essa operação de redução da demanda e geração térmica. Em entrevista coletiva, o governo evitou afirmar que o custo será diretamente pago pelo consumidor. Contudo, não é previsto aporte do Tesouro Nacional e nem abertura de crédito extraordinário como no passado. O MME apontou que o “sistema pagará essa conta” com a redução de oferta de consumidores livres e do programa de incentivo ao mercado regulado. Essa cobrança viria via ESS por segurança energética, encargo recolhido dos consumidores em nome da segurança do sistema, como versa a regra vigente no país.