Mercado livre ganha espaço na compra de bioeletricidade

Geração fechou 2020 com 66% das vendas totais de energia para o mercado livre, pouco acima da média dos últimos seis anos e previsão é que cenário se mantenha

Por Fabio Couto    Brasil Energia

O segmento de bioeletricidade pode ter encontrado no mercado livre de energia um caminho importante para escoar a geração. No ano passado, a geração, que tem base na biomassa do bagaço de cana-de-açúcar, fechou com 66% das vendas totais de energia para o mercado livre, pouco acima da média de 65,3% verificada entre 2014 e o ano passado. E a perspectiva é de manutenção do cenário.

Entre 2014 e 2018, verificou-se crescimento de 6% na contratação da energia térmica à biomassa por consumidores do mercado livre. Do total produzido pelo segmento, os 34% restantes foram negociados como energia de reserva, em leilões do mercado regulado ou pelo Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia (Proinfa).

Segundo Ricardo Gedra, gerente de Análises e Informações ao Mercado da CCEE, a suspensão de leilões para o mercado regulado, motivada pela pandemia de Covid-19, fez com que o mercado livre assumisse o protagonismo na compra de bioeletricidade.

“O Ambiente de Contratação Livre (ACL) virou a chave no ano passado, principalmente porque não houve leilão. Assim, o mercado livre assumiu o papel de importante protagonista no setor”, disse Gedra, em webinar da Associação da Indústria de Cogeração de Energia (Cogen) e da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), realizado na última quarta-feira (31/03).

Gedra recordou que a capacidade de produção da biomassa tem sido frequente nos meses que coincidem com o período seco, sendo a fonte a mais adequada para dar complementariedade às hidrelétricas, embora as fontes renováveis tenham mais capacidade de geração.

“Não precisamos ter vergonha ou pedir desculpas por produzir no período seco e crítico. A geração da biomassa é estratégica e bem-vinda para o sistema e para o consumidor tanto do mercado regulado quanto do mercado livre”, afirmou Zilmar de Souza, gerente de Bioeletricidade da Unica.

“A cogeração tem sido importantíssima para garantir a segurança energética do país, especialmente no período seco. Em 2020, a cogeração a biomassas preservou em 15 pontos percentuais o nível de água nos reservatórios do subsistema Sudeste/Centro-Oeste (SE/CO). Se não fossem as biomassas, teríamos apenas 19% de sua capacidade nesse importante subsistema na região que mais consome energia no país”, observa Leonardo Caio Filho, diretor de Tecnologia e Regulação da Cogen.

Separação entre lastro e energia

Souza destacou que a sazonalidade da fonte, especialmente por causa da safra de cana-de-açúcar, e o fator de intermitência das fontes devem ser observados no momento da formatação do modelo que vai determinar a separação entre lastro e energia, um dos temas da Modernização do Setor Elétrico. O bagaço de cana fechou 2020 com participação de 82,25% na produção de bioeletricidade.

O executivo da Unica salientou que no ano passado foram produzidas quase 643 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, sendo 92% da produção concentrada no Centro-Sul do país com entrega firme, sem intermitência, de abril a novembro nessa região, sem intermitência.

“Esse cenário irá requerer um cuidado do MME ao tratar esses atributos na reforma do setor elétrico”, disse Souza. Os reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste, principal submercado do país, encontram-se com armazenamento na casa dos 34%.

Newton Duarte, presidente da Cogen, também destacou que eólicas e solares também são complementares, mas possuem intermitência.

“A separação de lastro e energia está intimamente ligada ao mercado livre, para onde estão voltadas as perspectivas futuras. As energias renováveis têm participação de 11% na matriz e a biomassa, 4,9%. As renováveis geram até o dobro de energia, mas a biomassa consegue ajudar mais na complementação da geração hidrelétrica”, ressaltou Duarte.

A Cogen avalia que a solução encontrada para a judicialização do risco hidrológico (GSF, na sigla em inglês) deve melhorar o desempenho deste ano das usinas de cogeração de energia a biomassa. O setor acumulou mais de R$ 550 milhões em débitos a receber de negociações no Mercado de Curto Prazo (MCP). Com a solução, o impacto positivo se dará por conta do novo ânimo do setor de gerar mais do que a garantia física e liquidar o excedente pelo PLD no mercado de curto prazo.

Além do bagaço de cana, fazem parte da geração à bioeletricidade usinas movidas a biogás, à biomassa de capim elefante, casca de arroz, cavaco de madeira e resíduos florestais, além de lenha, carvão vegetal, licor negro e gás de alto forno, entre outros tipos.

Em janeiro deste ano, a CCEE contabilizava 297 usinas à biomassa, que somam 13,4 GW de capacidade instalada em 16 estados.