Setor precisa evoluir para fontes de maior controle, diz executivo da Safira

Raphael Vasques defendeu que as biomassas e o biogás “unem o útil ao agradável” pois são fontes sustentáveis e mais firmes que a eólica ou solar, que dependem de armazenamento para otimizar suas produções

DA AGÊNCIA CANALENERGIA COMPARTILHAR

Uma maior inserção das biomassas e do biogás para atender as necessidades da demanda energética nacional. A opinião do coordenador de Inteligência de Mercado da Safira Energia, Raphael Alves Vasques, foi expressa em um webinar promovido pela Associação da Indústria de Cogeração de Energia (Cogen) e pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Única) no final de junho. Na ocasião, o executivo afirmou que o setor elétrico brasileiro precisa de um crescimento que vá além de eólica e solar, reforçando a questão da intermitência.

“As biomassas e o biogás unem o útil ao agradável pois são fontes sustentáveis e conseguimos manter um controle maior sobre elas”, comentou, ressaltando que alguns países que diversificaram suas matrizes energéticas só com aerogeradores e painéis fotovoltaicos tiveram problemas para gerar quando não houve vento ou sol suficientes.

Uma solução para armazenar a energia gerada pelas fontes tradicionais da transição energética seria o uso de baterias. No entanto, Vasques lembra que essa tecnologia apresenta um custo ainda considerado elevado, além de ter seu uso no Brasil ainda em estado incipiente.

Nos Estados Unidos, onde sistemas de armazenamento estão mais desenvolvidos, Vasques conta que o custo poderia atingir algo em torno de US$ 3,8 mil por KW. Já no Brasil ainda há dificuldades com importação dos equipamentos, cujo valor poderia ficar mais elevado com a incidência de impostos. “Por isso o uso em solo brasileiro ainda fica restrito a casos considerados extremos, de alto custo na ponta ou quando há interrupções frequentes no fornecimento energético”, completou.


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Complementariedade com o sistema hidrelétrico brasileiro é uma das chaves para a boa concorrência das biomassas

 

Outro fator que evidencia a necessidade de desenvolver melhor a matriz energética, segundo o executivo, é o esperado aumento na frota de veículos elétricos. Ele explicou que a energia proveniente determinará se há uso de energia limpa ou não. Com uma frota elétrica de 10% de carros elétricos, prevista para ocorrer até 2030, a demanda ganharia um acréscimo de 9.400 GWh. “Isso significaria investimentos de aproximadamente R$ 20 bilhões só para suprir essa demanda extra”, disse.

Além disso, um ponto que merece atenção para o especialista da Safira Energia é a votação do projeto de lei 414, que prevê a abertura do mercado livre de energia elétrica. Caso aprovado e o ambiente de contratação livre vire uma realidade, há tendência de migração a partir do mercado cativo. Daí a necessidade de suprir também esta demanda.

Preços

Sobre as discussões no mercado quanto a viabilidade das usinas nucleares como alternativa, Raphael acrescentou que o alto custo envolvido na construção desses empreendimentos não compensa o preço final a curto prazo. “Somente a longo prazo o consumidor poderia ter um preço mais competitivo”, indica.

O executivo da Safira também ressaltou que os preços da energia para 2023 podem ser menores, uma vez que o período úmido registrou boas chuvas, inclusive com precipitações fora do comum na região sul do país. Assim os reservatórios das hidrelétricas estão bem abastecidos e indica que o Preço de Liquidação das Diferenças (PLD) deve permanecer baixo.

Outros destaques do webinar foram a apresentação de alguns dados, como  as biomassas exportando 20 mil GW em bagaço de cana e mais 3 mil de licor negro para o sistema elétrico no ano que passou, com a produção de algo em torno de 55 TWh de energia. A diferença estaria autoconsumo ou de usinas que não injetam energia para o sistema elétrico.